terça-feira, 8 de julho de 2025

DE CRÁPULA A HERÓI (EDILSON MARTINS)


Chorar nos separa de outras espécies, até nos eleva, mas não tranquiliza ninguém numa Copa, onde o que está em jogo são as glórias da pátria. No caso agora, dos clubes. Os que perdem, vão deixando suas lágrimas na grama quente dos campos. Assistir a uma equipe afogando-se em emoções, inclusive o técnico, sobre quem recai o maior desafio, é sempre alguma coisa que quase leva ao desespero. Uma Copa, ou um jogo, não é um espaço onde se premia o melhor, o mérito, a razão, a técnica, o mais ético, tão pouco o favorito. Igualzinho a vida. Há a ausência de lógica, o imponderável. Estado emocional da equipe, um ou mais jogadores alterados, desequilibrantes, erros de arbitragens, torcida, e lances inimagináveis, tudo isso conta, quando não decide o resultado. No capítulo das emoções, os exemplos são robustos. Esses atletas, não raro de origem excluída, ganham fortunas, são celebridades, mas na esfera pessoal a maioria é incapaz de comprar um pirulito na esquina. Não, não estamos falando de Neymar. Carentes, e não menos de experiência de vida, cedo deixam suas casas, universo familiar praticamente nulo, adentram num ninho de cobras, e têm assessor até para escolher a escova de dentes. Na fria matemática do jogo, pouco importa que se ganhe por 3 a zero, ou por uma bola no travessão. Uma alma do contra, e não são poucas, pode argumentar; o que esperar de uma atividade onde não se pode recorrer às mãos? O que nos separou dos outros primatas, lá atrás, foram o nosso polegar e o indicador. No futebol, essa fantástica evolução não vale. O futebol só permite os pés, portanto nos devolve a um passado que se perde no começo dos começos, na escura noite dos tempos. Nos devolve ao imponderável. Hércules, o ex-menino pobre do Piauí, tudo indica que será sequestrado pelas ligas milionárias, que ele sequer imagina o que sejam, vamos supor. Já Renato Portaluppi, o técnico, o bolsonarista, que vive os melhores tempos de sua egolatria, pode emergir de herói a vilão. Ou de crápula a herói. Futebol é a reprodução fiel da imponderabilidade da vida. Um espírito mais metido pode até dizer que o futebol - assim como outros esportes, movido loucamente por paixões - só xiste para evitar os conflitos internos, ou mesmo as guerras Civis. Já que a política busca evitar as guerras globais. https://linktr.ee/edilsonmartins

Sem comentários:

Enviar um comentário