Chorar nos separa de outras espécies, até nos eleva, mas não tranquiliza ninguém numa Copa, onde o que está em jogo são as glórias da pátria.
No caso agora, dos clubes.
Os que perdem, vão deixando suas lágrimas na grama quente dos campos.
Assistir a uma equipe afogando-se em emoções, inclusive o técnico, sobre quem recai o maior desafio, é sempre alguma coisa que quase leva ao desespero.
Uma Copa, ou um jogo, não é um espaço onde se premia o melhor, o mérito, a razão, a técnica, o mais ético, tão pouco o favorito.
Igualzinho a vida.
Há a ausência de lógica, o imponderável.
Estado emocional da equipe, um ou mais jogadores alterados, desequilibrantes, erros de arbitragens, torcida, e lances inimagináveis, tudo isso conta, quando não decide o resultado.
No capítulo das emoções, os exemplos são robustos.
Esses atletas, não raro de origem excluída, ganham fortunas, são celebridades, mas na esfera pessoal a maioria é incapaz de comprar um pirulito na esquina.
Não, não estamos falando de Neymar.
Carentes, e não menos de experiência de vida, cedo deixam suas casas, universo familiar praticamente nulo, adentram num ninho de cobras, e têm assessor até para escolher a escova de dentes.
Na fria matemática do jogo, pouco importa que se ganhe por 3 a zero, ou por uma bola no travessão.
Uma alma do contra, e não são poucas, pode argumentar; o que esperar de uma atividade onde não se pode recorrer às mãos?
O que nos separou dos outros primatas, lá atrás, foram o nosso polegar e o indicador.
No futebol, essa fantástica evolução não vale.
O futebol só permite os pés, portanto nos devolve a um passado que se perde no começo dos começos, na escura noite dos tempos.
Nos devolve ao imponderável.
Hércules, o ex-menino pobre do Piauí, tudo indica que será sequestrado pelas ligas milionárias, que ele sequer imagina o que sejam, vamos supor.
Já Renato Portaluppi, o técnico, o bolsonarista, que vive os melhores tempos de sua egolatria, pode emergir de herói a vilão.
Ou de crápula a herói.
Futebol é a reprodução fiel da imponderabilidade da vida.
Um espírito mais metido pode até dizer que o futebol - assim como outros esportes, movido loucamente por paixões - só xiste para evitar os conflitos internos, ou mesmo as guerras Civis.
Já que a política busca evitar as guerras globais.
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