O benefício da dúvida
Francisco Dandão
Não creio que exista alguém neste planetinha azul (sei
lá se a cor ainda é essa) que não saiba minimamente alguma coisa sobre futebol.
O esporte foi de tal forma massificado ao longo dos últimos anos, principalmente
depois do advento da televisão, que mesmo os que não gostam não podem se furtar
a ver uma coisinha aqui, outra coisinha ali.
Da mesma forma como todo mundo acaba, nem que seja à
força, vendo essas coisinhas aqui e ali, imagino que seja impossível para qualquer
ser vivente neste planeta (exceto, talvez, alguém que jamais tenha posto os pés
numa cidade, o que, convenhamos, deve ser muito difícil de encontrar) não
conhecer uma ou outra personalidade ligada ao referido esporte.
Então, se o velhinho aqui que vos escreve não estiver
completamente errado (ou com os miolos torrados por conta do sol que amanhece
mais quente todos os santos dias), penso que todo mundo sabe, inclusive os que
fazem questão de não saber, que o futebol é um esporte onde vinte dos vinte e
dois jogadores que entram em campo o exercitam com os pés.
Aliás, nascido em território inglês (dizem que os
chineses já o praticavam há milênios e que a primeira bola do referido povo
teria sido fabricada com restos de pólvora, fato que fez com que o pontapé
inicial acabasse provocando uma enorme explosão), o próprio nome do esporte já
remete para essa parte da anatomia humana: “foot” (pé) + “ball” (bola).
Pois muito bem. Até aqui nada de novidade, nenhuma
informação nova (talvez a da pólvora que os chineses chutaram, ou nem isso,
dado que não consta que o chutador/artilheiro tenha sobrevivido para contar a
história) nestas linhas tortas de uma escritura incerta. Absolutamente “nadica
de pitibiriba” que possa ser agregado ao conhecimento universal.
Mas o ponto aonde eu quero chegar, eu lhes digo já.
Acontece que, contrariando o conceito (ou seria um dogma?) essencial de que a
parte mais importante da anatomia humana para a prática do futebol é o pé, nos
últimos dias o que mais se tem discutido nas mesas-redondas (quadradas,
retangulares, ovais etc.) é a participação da mão no destino do jogo.
É que, de repente, os árbitros já não conseguem concordar
com o que é “mão na bola” ou “bola na mão”. A primeira opção é tida como
intervenção faltosa, por conta do intencional (o jogador, supostamente,
interromperia a trajetória da tal redonda para levar vantagem). Já na segunda
opção a bola é que iria encontrar a parte proibida para o contato.
E assim, por não chegarem a um entendimento, tem
árbitro que “interpreta” “mão na bola” como “bola na mão” e tem árbitro que
“interpreta” tudo ao contrário. Se há uma solução pra isso? Claro. Bastaria
tornar o lance ilegal sempre que bola e mão se encontrassem. Para a FIFA,
entretanto, mais do que simplificar, o que vale mesmo é a dúvida! Hein?
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