Papo de barbearia
Francisco Dandão
Todos os assuntos do mundo passam, num piscar de olhos,
por uma barbearia (se fosse no tempo do poeta português Fernando Pessoa e seus
respectivos heterônimos, provavelmente essa passagem dos assuntos acontecesse numa
tabacaria, né mesmo?). E dali não somente saem devidamente analisados como
definitivamente resolvidos. Ponto final!
Pois no fim da tarde de segunda-feira (22), quando da
minha ida a um desses lugares, eu vi pelo menos três assuntos terem o seu
desfecho encaminhado. Primeiro, sobre o destino do Palmeiras em 2013; segundo,
sobre o lugar de direito do Ronaldinho Gaúcho no futebol brasileiro; e terceiro,
sobre o vencedor das eleições para prefeito de Rio Branco.
Nenhum dos três barbeiros admitiu ser corintiano, mas
em opinião unânime eles garantiram que o Palmeiras merece mesmo jogar a série B
no ano que vem. Se fossem corintianos, dava para se compreender imediatamente a
má vontade deles com o Palmeiras. Mas, não sendo, o que eles argumentaram foi,
isso sim, a incompetência do alviverde paulista.
“Time que depende de argentino” (o “pirata” Barcos, no
caso) “tem mais é que ir comer grama na segundona”, disse um dos barbeiros. Ao
que o outro aquiesceu: “Comer grama e ficar por lá por um bom tempo, pra deixar
ser abestado”. O terceiro barbeiro, entre uma tesourada e uma penteada no
cabelo do freguês, limitou-se a resmungar afirmativamente.
No que diz respeito ao Ronaldinho Gaúcho, aí o caldo
deu uma engrossada. Nitidamente flamenguistas (apesar de tudo, com o urubu flertando
desde o início do campeonato com o descenso, o número de simpatizantes deles não
diminui nem por decreto), todos garantiram que o dentuço não joga nada e que
está fazendo no Atlético só fogo de palha!
Um sujeito “brancoso”, que até então havia se mantido
em silêncio, esperando sua vez enquanto folheava uma revista Playboy (leitura
obrigatória numa barbearia), ainda quis ensaiar um protesto em defesa do
Ronaldinho. Mas desistiu à “meia palavra”, dado o olhar belicoso dos barbeiros,
todos, como por encanto, naquele momento, de navalha na mão.
Quanto ao veredito sobre o resultado das urnas no
próximo domingo, aí a conversa virou discussão. Por alguns instantes eu pensei
até que tinha ali naquele espaço exíguo três cabos eleitorais, tanto o ardor
dos caras sobre as qualidades do seu candidato do coração e, consequentemente,
a total incompetência do adversário (que eles, é claro, entendiam “inimigo”).
Tão apaixonados pelo seu candidato que nenhum cliente
ousou dar palpite algum. O “brancoso” que lia a Playboy sequer respirava. E a mim,
que desde o começo só ouvira, só me ocorreu rezar uma Ave Maria! Se da discussão
deu pra saber quem ganhará a eleição no domingo? Deu sim. Mas isso eu não posso
dizer, porque não pude registrar a pesquisa no TRE!
Sem comentários:
Enviar um comentário