Padre Emílio gosta
de galinha gorda. Daquelas da gordura amarela que da cá um pirão de lamber os
beiços! Dona Ednéia todos os meses separa a galinha mais gorda do seu galinheiro
e leva para o padre. Isso, até três meses atrás, quando começou a desaparecer
justo a galinha da oferta. A princípio pensou-se que se tratava de uma mucura,
mas nunca se viu gambá tão esperto e Dona Ednéia além da arapuca, ficou de
atalaia e viu. “Eu vi, senhor padre!” O gatuno era o Gilsinho. Filho de boa
família, frequentador da paróquia. Um bom rapaz! “Vício! Dona Ednéia, vício!” “Desconjuro,
senhor padre, mas eu até pensei em chamar a polícia!” Bom menino! É estudioso,
trabalhador e ponta direita do Flamenguinho. “Não faça isso, dona Ednéia! Deixe
comigo!”
Padre Emílio não é
violento e não gosta de confusão. Dá um boi para não entrar numa briga e dá uma
boiada pra ser o primeiro a sair dela. É de paz. Mas tudo tem um limite. E essa
tênue linha divisória de humores ele transpôs quando pediu ao treinador que o
deixasse atuar na lateral esquerda no jogo da primeira mão com o Flamenguinho
de Baixo. O treinador achou estranho o pedido, mas era apenas mais uma esquisitice
do padre que não tem nem cacoete de lateral. Porém, permitiu a doidice, desde
que fosse por pouco tempo. “Só o tempo de dar um recado.” No primeiro ataque
pela direita o Gilsinho passou a bola por entre as pernas do lateral
improvisado. Por sorte o cruzamento foi para fora. Na segunda, o padre chegou
primeiro à bola, mas manteve o pé em riste acertando a canela do moleque. O
juiz assinalou jogo perigoso. Padre Emílio correu para dentro da área e
rechaçou com a cabeça o tiro livre indireto. Mas o recado ainda não estava
completo. Numa bola dividida o padre acertou um tostão no Gilsinho que ficou
rebolando no chão. Padre Emílio voltou para a sua posição e deu por encerrada a
questão para não levar com o segundo cartão amarelo e ser expulso de campo. Mas
quando terminou o jogo foi ter com o Gilsinho que ainda puxava da perna e
reclamou. “Pô, seu padre! Só porque eu lhe dei uma caneta!” “Não! Foi por causa
da galinha gorda que eu não como há três meses.” E a ameaça! “Ainda temos o
returno!” Todos os meses, dona Ednéia leva para o padre a galinha mais gorda de
seu galinheiro, do qual continua desaparecendo galinha. Mas só as magricelas!
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