segunda-feira, 15 de abril de 2013

Padre Emílio


Padre Emílio não sabia bater pênaltis, mas como o time em que jogava não tinha nenhum batedor oficial, o treinador estipulou que quem sofresse a falta era quem faria a cobrança sendo que na impossibilidade de ser o próprio, seria o Padre Emílio, o mais velho da equipe, o responsável pela tarefa. Foi o que aconteceu no último jogo do Cumarú Esporte Clube. O ponta de lança Wedesley foi derrubado na área e teve que ser retirado de campo com suspeita de fratura no perônio. Lá foi o Padre Emílio aplicar o castigo máximo ao adversário que ganhava de um a zero. Era a chance do empate que tanto precisava o Cumarú para manter-se bem no campeonato da várzea. Saiu calmamente da zaga onde se postava durante quase toda a partida e, em passos decisivos atravessou o campo sempre de olho no goleiro que parecia expressar um ligeiro sorriso. Padre Emílio foi logo implicando com o adversário. “E isso aí na orelha brilhando mais que catarro na parede com farol de automóvel batendo em cima, que que é isso?” O defensor trocou o sorriso debochado pela cara de quem não entendeu patavina. E o Padre continuou com a pressão psicológica. “No meu tempo quem usava brinco era cigano. Uma argola, numa orelha. Nas duas era coisa de mulher. Tá imitando o Cristiano Ronaldo ou o Maradona? Nunca vi goleiro usar brinco! É diamante ou foi comprado no brechó?” O goleirinho já incomodado conseguiu reagir: “Seu Padre tá tirando onda com minha cara!?” O árbitro interferiu: “Vamos logo com isso ou dou cartão amarelo pros dois!” Padre Emílio insiste com a guerra de nervos e diz: “Senhor juiz, se não me engano é proibido jogar com joias. é uma questão de segurança!” O juiz olha para o goleiro e este, solenemente, retira os brincos, coloca-os no fundo da rede e se posiciona altivamente como que a dizer que com ou sem brinco era mais ele e não seria um padre perna-de-pau que só sabia dar pancada que iria bater-lhe. Ele que era um bom goleiro e que até tinha a fama de apanhador de pênaltis! O Padre Emílio que tinha por lema “quando não se sabe fazer, faz-se” fez. Fechou os olhos e mandou uma bicuda. A bola foi forte e rasteira, bem ao canto, como se tivesse sido atirada por um especialista, mas o keeper, que apesar da pouca estatura tinha bom impulso e elasticidade, alcançou a esfera e agarrou-a firmemente com as duas mãos. Foi um momento de puro espetáculo. O goleiro acenou para a pequena, mas ruidosa torcida e foi pegar os brincos ainda com a bola debaixo do braço. O juiz não conversou. Apitou gol e o zagueiro Padre Emílio foi o carregado aos ombros até à venda do Gonzaga onde esperava, geladinha, uma grade de cerveja. Comentou-se que um caso parecido acontecera com o Ademir Queixada, excelente batedor de pênaltis do Vasco da Gama. Mas foi nos antigamentes.

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