Padre Emílio chegou na concentração e deu
de cara com um jovem alto e forte vestindo a camisa três. “Quem é o grandalhão?”
perguntou ao treinador que veio cheio de dedos para explicar que seria um teste
já que o jogo seria um amistoso valendo só a grade de cerveja na venda do Gonzaga.
“Então pode botar o armário pra jogar também o campeonato, que eu estou fora!” Padre
Emílio explicou a razão de não querer um regra três. Ele diz que quem fica no
banco fica rezando pra que o titular se machuque. “Não precisa de reserva. Tem
o Zequinha que joga no meio, mas também na defesa e temos o Dida que não se
incomoda de ser reserva e que é curinga. Quantas vêzes me substituiu! O Dida joga
até de goleiro se for preciso.” O treinador aguentou a ciumeira do padre e
perguntou, já sem cerimônia. “Ué, seu Padre! A sua reza não deveria ser mais
forte? O Bem sempre não vence o Mal?” Padre Emílio não esperava levar com uma
filosofia desta na testa e foi-se dirigindo para o banco de reservas dizendo. “O
Bem sempre vence, mas demora. Para se fazer o bem, às vezes leva-se uma vida inteira,
o mal, é dois palitos. O tempo de partir uma perna!” Padre Emílio nunca em sua vida
de desportista havia ficado no banco. Foi uma experiência nova e que, bem vista,
até lhe fez muito bem. Deu-lhe para pensar a vida. Afinal são cinquenta anos no
lombo. Meio século de vida. Notou que o outro era bom jogador e poderia vir a ser
um substituto à altura. Bem poderia pendurar as chuteiras. Já não era sem tempo.
Com quinze minutos de jogo já imaginava a festa de despedida, na qual jogaria o
primeiro tempo e passaria a número três para aquele homem grande e saltador que
ele nem sabia o nome, mas a quem já dirigia os melhores e mais cristianos pensamentos.
Foi quando o novato subiu para rechaçar uma bola alta e caiu com o pé num buraco
torcendo o tornozelo. Padre Emílio, que já tinha tirado o uniforme, teve que se
vestir rapidamente. Ao entrar em campo cruzou um olhar calado com o treinador e
nele dizia. “Eu não fiz nada!”
Sem comentários:
Enviar um comentário