Padre Emílio recebeu os alunos da faculdade
de sociologia da Universidade Federal de Viçosa para uma entrevista que
serviria apenas como exercício escolar, mas na qual ele abriu o seu coração. Lá
pelas tantas, perguntaram o que ele pensava das manifestações que ora
proliferam no país e se ele não temia que protestos contra os gastos públicos como
o que se fez no estádio de Brasília a quando da abertura da Copa das
Confederações fosse por em risco a realização da Copa do Mundo, no Brasil. “Eu
acho é pouco!” “!?” “O México está bem preparado e pode muito bem arcar com
outra em cima da hora.” Os estudantes não entenderam nada, afinal é sabido que
o padre gosta muito de futebol e é praticante, apesar da idade avançada. “Para
ser franco, esse protesto tocou-me também. Mais me conscientizo que não gosto
do Futebol. Gosto sim, e muito, de jogar à bola.” “Mas o senhor até ajudou a
fundar um time de futebol, o Cumaru!” “E disputamos o campeonato da várzea...
Só nós sabemos com que dificuldades!” Padre Emílio debulhou o desabafo. “Não ao
futebol estado! Estado rico. Não à FIFA! O Brasil é o país do futebol? Não. É o
país das peladas de pés descalços, onde o maior derby é o Com camisa versus Sem
camisa. Esse futebol que dizem ser o do Brasil é o futebol da CBF e de algumas
associações privilegiadas. A seleção representa a Confederação, não os clubes
que vivem na penúria. A Pátria de Chuteiras que Nelson Rodrigues falou...
chuteiras Nike, Adidas... com uma pedrinha dentro, uma pedrinha de ouro! De
vira-latas, que nos sentíamos, passamos a ter o rei na barriga! Penta! Não.
Somos ainda moralmente bi campeões, pois o que se viu depois de 62 foi só
fantochada. Sessenta e dois, ano em que nasci. Eu nunca vi o Brasil ser
campeão. Heróis!? Heróis são os do passado, são os da Celeste Olímpica. São os
do Taithi. São os que sabem aliar o desporto ao lazer. Eu só quero é ganhar
para que o adversário pague a cerveja na venda do Gonzaga. Quem quiser que
embarque nessa. Eu tenho um amigo, para vocês terem uma ideia... é ateu e
comunista desses de comer criancinha... e no entanto é um torcedor fanático.
Chega a ficar doente quando a seleção perde. A paixão é isso! Os romanos já
sabiam disso e estabeleceram a política do Pão e Circo. Aqui, arranjaram um
jeitinho de ganhar dinheiro com ela. Vendem o pão e vendem o circo.” O padre
vai para trás de um biombo e continua a falar enquanto se troca. “E quanto aos
protestos para reduzir o preço das passagens, eu sou contra. Há que se
protestar pelo não pagamento das passagens. Ou melhor, pelo passe livre, pois
que todos pagamos através dos impostos e das propagandas viárias. E por falar
em protesto, que tal estou?” Padre Emílio aparece trajando uma batina toda
branca. “Vamos, que está na hora!”
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