terça-feira, 28 de maio de 2013

Padre Emílio na reserva

Padre Emílio chegou na concentração e deu de cara com um jovem alto e forte vestindo a camisa três. “Quem é o grandalhão?” perguntou ao treinador que veio cheio de dedos para explicar que seria um teste já que o jogo seria um amistoso valendo só a grade de cerveja na venda do Gonzaga. “Então pode botar o armário pra jogar também o campeonato, que eu estou fora!” Padre Emílio explicou a razão de não querer um regra três. Ele diz que quem fica no banco fica rezando pra que o titular se machuque. “Não precisa de reserva. Tem o Zequinha que joga no meio, mas também na defesa e temos o Dida que não se incomoda de ser reserva e que é curinga. Quantas vêzes me substituiu! O Dida joga até de goleiro se for preciso.” O treinador aguentou a ciumeira do padre e perguntou, já sem cerimônia. “Ué, seu Padre! A sua reza não deveria ser mais forte? O Bem sempre não vence o Mal?” Padre Emílio não esperava levar com uma filosofia desta na testa e foi-se dirigindo para o banco de reservas dizendo. “O Bem sempre vence, mas demora. Para se fazer o bem, às vezes leva-se uma vida inteira, o mal, é dois palitos. O tempo de partir uma perna!” Padre Emílio nunca em sua vida de desportista havia ficado no banco. Foi uma experiência nova e que, bem vista, até lhe fez muito bem. Deu-lhe para pensar a vida. Afinal são cinquenta anos no lombo. Meio século de vida. Notou que o outro era bom jogador e poderia vir a ser um substituto à altura. Bem poderia pendurar as chuteiras. Já não era sem tempo. Com quinze minutos de jogo já imaginava a festa de despedida, na qual jogaria o primeiro tempo e passaria a número três para aquele homem grande e saltador que ele nem sabia o nome, mas a quem já dirigia os melhores e mais cristianos pensamentos. Foi quando o novato subiu para rechaçar uma bola alta e caiu com o pé num buraco torcendo o tornozelo. Padre Emílio, que já tinha tirado o uniforme, teve que se vestir rapidamente. Ao entrar em campo cruzou um olhar calado com o treinador e nele dizia. “Eu não fiz nada!”

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