domingo, 24 de janeiro de 2010

sábado, 23 de janeiro de 2010

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O ponto de vista da bola


Valeu, Isabel!

Escrever Futebol

Curso para jornalistas e não só.
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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Preferências


Para ilustrar o texto do Cristiano.
Isabel

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

INTELECTUAIS E FUTEBOL...



Quer-nos parecer que começa a ser tempo de o intelectual ou o artista irem perguntando a si próprios por que motivo o público que lhes falta esgota lotações dos estádios, num país subdesenvolvido do Ocidente ou numa república popular, pelo maduro prazer de assistir, durante noventa minutos, às aparentemente loucas correrias de um punhado de homens atrás de uma caprichosa bola de couro.


Aqui está a minha resposta com a grande ajuda do intelectual holandês August Willemsen:

É óbvio que um intelectual não atrai milhões de pessoas e serve apenas um público restrito, senão não era intelectual e diria as mesmas banalidades que o Cristiano Ronaldo ou o Edson Arantes do Nascimento.

Nos artistas a coisa complica-se. Há realmente artistas que esgotam lotações nos estádios, por exemplo músicos populares, de preferência anglo-saxónicos. E o mais engraçado – para quem acha piada, eu não! – é que por vezes nem precisam de saber cantar ou tocar um instrumento! Basta colocar discos: veja-se a inexplicável popularidade do energúmeno DJ. Enquanto que outros artistas há, sobretudo os artistas plásticos, sobretudo os que têm veleidades intelectuais, que só são conhecidos entre a família e os amigos.

Entre estes últimos, alguns há que é realmente uma pena não serem mais conhecidos. Mas também há outros que devíamos dar graças a Deus pelo facto de eles não esgotarem lotações nos estádios, porque são REALMENTE MUITO CHATOS. São uma seca de alto lá com o charuto….

Também é preciso ter em conta que “as aparentemente loucas correrias de um punhado de homens atrás de uma caprichosa bola de couro”, é só aparentemente uma louca correria! Na realidade o futebol há muito tempo que deixou de ser desporto para ser uma reprodução da própria vida. A partir de agora dou a palavra a August Willemsen, que eu traduzi do holandês:


Eu próprio, em 1973, ouvi a história de um modesto empregado de mesa num restaurante da Praça Tiradentes no Rio de Janeiro. Depois do ‘Chile’ ele começou a viver ainda mais poupadamente do que aquilo que já fazia. Do seu parco salário ele punha quase tudo de lado. A família passava privações mas ele tinha que ir a Inglaterra [Campeonato do Mundo de 1966 – CdR]. Houve familiares que contribuíram, e com essa ajuda e passando muitas necessidades, lá conseguiu juntar a soma necessária.

Mas com tudo isto, este homem modesto no Brasil, ainda não tinha resolvido todas as dificuldades. Quando tratou do passaporte e pediu um visto, as autoridades quiseram saber como é que ele, um simples empregado de mesa, tinha conseguido arranjar tanto dinheiro. Não queriam acreditar na sua história; roubo ou outra actividade suspeita parecia-lhes mais provável. Com muito esforço lá conseguiu convencer as autoridades, mas no aeroporto a aduana criou novamente dificuldades, achavam a coisa muita estranha. Lá conseguiu finalmente partir para Londres.
Para uma vitória miserável, dois jogos de merda e o Brasil eliminado na primeira-mão.
Isto passou-se há sete anos, ele deve ter contado a história umas cem vezes porque a contava com uma abnegação fatalista: ‘Essas coisas a gente esquece.’
Pensar nisso fazia-o sorrir; era eu quem tinha quase vontade de chorar. Apercebi-me que esta era a história de dezenas de milhares. E raramente reagi tão furiosamente contra as pessoas que olham o futebol com desdém, assim como contra os sentimentos que o futebol, segundo elas, provoca em muita gente.

Apesar de já ter descarregado a bílis noutras ocasiões, faço-o outra vez com muito prazer, contra os lugares-comuns levianos e idiotas, da moda e pedantes que dizem que o futebol (ou o desporto em geral) é o ópio do povo, [as outras religiões é que são o ópio do povo, e o Islão é uma overdose! – CdR] utilizado por regimes perversos para evitar que as pessoas se ocupem com política e problemas sociais.

Pelo contrário, eu penso que aqueles que pensam desta forma são os que se colocam fora da realidade. Precisamente no Brasil o futebol é a mais autêntica manifestação da cultura actual. A popularidade do futebol não flutua de maneira nenhuma com as mudanças de regimes ou de governos. Porque em países como o Brasil, duas horas de futebol são para milhões de pessoas o único escape para uma semana de frustrações e de humilhações. Através de um breve regresso ao seu tempo de criança, pela identificação com o seu herói, o torcedor pode transformar-se momentaneamente num vencedor e ser menos infeliz. Querer negar ao povo este pequeno prazer é querer castigar aqueles que no Brasil já são tão castigados, porque são ‘povo’.

Além de sádico é tacanho. Porque quem é esta gente?
É a bem dizer toda a gente. De todas as idades e de todas as classes. E eu penso que, se o futebol no Brasil une as classes sociais em vez de (como no meu país temos tendência a pensar e como é geralmente o caso) de as separar, isto deve-se a um existente denominador comum infantil. Eu uso a palavra com alguma hesitação porque dá imediatamente azo a associações com imbecilidade ou com o assumir de uma atitude arrogante. Mas eu refiro-me à infantilidade própria do homo ludens, à ingenuidade e à espontaneidade com que o ‘homem lúdico’ encara alegria e tristeza, e como a exprime. Isto é a essência da muita citada máxima de Armando Nogueira: ‘Para entender a alma do brasileiro, há que apanhá-lo no momento do golo.’
Mas porquê futebol e não outro desporto jogado com bola? Esta pergunta é válida para muitos países. Também não existe uma resposta exclusivamente brasileira. A tese de Armando Nogueira, de que o brasileiro pela sua alma ‘esférica’ estaria predisposto para o futebol é enternecedora e poética, mas falha por falta de consistência. Uma outra hipó(tese) tem a ver com o facto do futebol ser tão imprevisível, fazendo um apelo ao poder de improvisação, o que é uma característica essencial do comportamento do Brasileiro. Isto assim já me cheira.

Na realidade o futebol é também na Holanda dos desportos mais populares, enquanto que nós somos conhecidos por não ter poder de improvisação, mas nós também jogamos de maneira completamente diferente. Mesmo o nosso futebol lúdico dos anos ’70 era em grande parte baseado em padrões estudados – e é precisamente a isto que o brasileiro tem uma enorme aversão. A falta de precisão, o inesperado e o improvisar, tão característico no comportamento do brasileiro, reflecte-se também no futebol deles – mais do que em desportos jogados com a mão, porque com as mãos cometem-se menos erros. E marcam-se mais golos. Isto é o que faz com que desportos como o andebol e o basquetebol sejam tão insuportáveis para os amantes de futebol. Há uma desproporcionalidade. Há golos a mais. Há uma inflação que faz com que o golo perca o seu valor como clímax. Nenhum mortal aguenta explodir vinte, muito menos cem vezes por partida num orgástico choro de alegria, ou entrar o mesmo número de vezes em depressão suicida.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

domingo, 3 de janeiro de 2010

... Porquê?

Quer-nos parecer que começa a ser tempo de o intelectual ou o artista irem perguntando a si próprios por que motivo o público que lhes falta esgota lotações dos estádios, num país subdesenvolvido do Ocidente ou numa república popular, pelo maduro prazer de assistir, durante noventa minutos, às aparentemente loucas correrias de um punhado de homens atrás de uma caprichosa bola de couro.

Ruy Belo, Futebol e jornais desportivos têm muito público... Porquê?, in A Bola, 6-Jan-1972

Do blog Silêncio

A minha maneira de ver o Fenómeno Futebol

Sobre o futebol não tenho nada contra. Aliás, o meu pai foi um óptimo jogador e admiro qualquer pessoa que seja boa num esporte. Sobre o fenómeno, para mim, o futebol é um dos quatro ópios do povo - os outros três são a religião (do Marx), a política e a televisão – para além de promover sentimentos nacionalistas, violência, grande estupidez em massa (basta ver uma entrevista de algum famoso jogador, é anedótico…) Também os salários são anedóticos, enquanto grandes cientistas e artistas vivem com dificuldade... Mas como a massa vive drogada, cega, a dormir, isto não é de todo um problema.
Um dia, quando fui visitar uma sex-shop, deparei-me com algumas desoladas stripers, tantos canais de filmes vazios e uma multidão de homens à volta de uma televisão. Pensei comigo, isto deve ser algo melhor que um Calígula, ou uma Garganta Funda! E era o Benfica a jogar contra o Sporting… Pelo jeito, há homens que preferem jogar com uma bola ao invés de duas?!

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O ANO EM QUE O BRASIL GANHOU O EUROPEU

Ao Embaixador da Língua João Augusto de Médicis

Corre o ano da graça de 2116.
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, ainda não alcançou a estrutura económica da Commonwelth mas, em compensação, tem grande desenvoltura cultural.
Nesse gracioso ano, Timor Lorosae viu sua Selecção Nacional de Futebol classificada para a Copa Asiática. A equipa, que tão bem se comportara na fase de apuramento, ficou desfalcada. Sentindo que não teria hipóteses contra os poderosos Japão e Coreia, já unificada e contra a coqueluche asiática, o Camboja, revelação do torneio, Timor pediu que Portugal vestisse a camisola de sua selecção, aproveitando-se das regalias conseguidas pela C.P.L.P.
Portugal ponderou e viu a possibilidade de tirar uns dividendos económicos principalmente na importação do café da região, tão ao gosto dos portugueses e que ainda estava nas mãos do americano. O problema é que Portugal estava apurado para a fase final do Europeu, com boa cotação. O povo assustou-se com a possibilidade de ser representado pela Selecção B que não inspirava confiança mas viu com bons olhos a substituição poder ser feita pela Selecção Canarinha do Brasil, que aceitou de chofre o convite. Nem pestanejou, pois seria a oportunidade de disputar o campeonato tido como de maior grau de dificuldade. Maior até que da Copa do Mundo.
O Brasil estava com a mesma deficiência de Portugal para formar uma boa equipa B para representá-lo na Copa América. Solicitou a Angola que estava com uma esquadra de fazer inveja classificada em primeiro lugar do grupo, invicta, para o Torneio das Nações Africanas. Angola não aceitou vestir a camisa brasileira pois era uma grande oportunidade que tinha de sagrar-se campeã africana. E não deu outra...
Estava difícil arranjar um substituto para o Brasil pois, outra selecção que tinha um bom plantel era a de Moçambique que, já há muito estava mais para o lado da Commonwelth. Os outros países de língua oficial portuguesa não tinham boas selecções, na altura.
A solução foi encontrada pela Guiné. Treinar-se um combinado com os melhores jogadores de países cujas selecções não estivessem envolvidas nas competições. A própria Guiné formou o meio-campo. Os atacantes e o guarda rede eram de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe. A zaga completa, inclusive, os reservas, era da Galícia que mesmo sendo considerada uma defesa de grande categoria, só disputava os regionais na equipa que pertencia. O Guarda redes suplente era um luso-americano de Nova Jersei. E assim foi constituída a selecção que venceu a Copa América representando o Brasil, que por sua vez...
Ena!... que uma coisa dessas é tão boa que eu quero viver para ver portanto, vou começar de novo a história:
Corre o ano da graça de 2024...
Ano gracioso em que o mundo falou português.

jc
Lisboa, Março de 2004