sábado, 27 de setembro de 2014

GOL!

Os pés que se tocam audazes
Passeiam roçando e sentindo
No resto da equipe o enlace
Que seguem e vão – indo e vindo.

Defesas parecem se abrir
Mas o retesar faz unir.

O meio quem sabe? Quem viu?
Fluídos no esforço e no espaço
No tempo perdeu-se, ruiu.

Foi frente a frente que o intento
Enfim se alcançou a contento!

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Dia da bola

Domingo. Animação. Nervosismo. Expectativa. Estamos de serviço, mas eu sei que, lá uma vez ou outra, vou ter um dos meus maiores prazeres: Ver a bola rolar! Quanto mais nos aproximamos do estádio, mais me sinto ansioso. Vamos trabalhar, mas eu sei que ela vai passar por mim e vou acompanhá-la com o olhar e imaginar as coisas que faria com ela. Pura brincadeira! A arquibancada está cheia e todos olham para ela. Ela é o centro das atenções. Porém, eles só querem que ela lhes cumpra os desígnios favoráveis. Por vezes, ela escapa do relvado e vai ter com a multidão e eu sinto cá uma inveja! Ingratos! Eles não gostam dela, ou melhor, podem até gostar, mas gostam mais daqueles que a disputam, brincam com ela, acariciam-na, dão-lhe beijinhos... Eu? Gosto tanto que até apetece-me mordê-la. Comê-la! Não, eles não podem gostar mais dela do que eu. Uns, tem a paixão pelo clube, os outros a usam como trabalho. Eu? Pura diversão! Chega a ser bonito o agitar das bandeiras, qualquer delas... Eu gosto mesmo é da bola! O meu colega é que sofre, coitado. É um bom profissional e não desvia a atenção da sua tarefa mesmo quando é o seu time que está a jogar. Sinto a sua angústia. Ele, de costas para o campo, com os olhos pregados na torcida. Só sofro quando não a vejo e entretenho-me a observar aquela multidão que se alegra, entristece ou revolta com resultados, como se a bola não existisse. Bobos! Domingo. Para mim, é sempre assim. Duas horas nisso. 
Sinto o ligeiro puxar da trela, ergo o cu da relva e caminho com o colega para a saída. Cabeça baixa, como fui treinado, mas com os olhos a vasculhar na esperança de a terem esquecido nalgum canto do gramado. Mas isso nunca acontece! Será que alguém gosta mais da bola do que eu? 

 Lisboa, 2000

A equipa ideal

“Fugi. Isolei-me para expiar minha culpa. Qual retiro?! Qual quê?! Covardia mesmo! Culpado e covarde. Ajudei a criar o monstro e deixei-o à própria sorte quando vi que estava fora de controlo. Mas tudo era apenas uma brincadeira. Como poderia imaginar que a coisa iria tão longe? E quem sofre é o amigo a quem aceitei a cumplicidade do crime e abandonei. Ele, o amigo do peito, que não tinha medo de ser feliz... O que para mim era mentira, para ele, era um meio para atingir um ideal. Um sonho. Sei que deu para o torto e nada posso fazer para remediar a situação. Além do mais, nem sei o que foi que aconteceu. Pelo menos, estarei ombro a ombro com o amigo. Para o que der e vier... e se der em cadeia, vou eu dentro. Digo que foi tudo invenção minha. Que ele não sabia de nada. É isso!” 
Com esses pensamentos, dirigiu-se para o bar, pois, mal chegara à cidade, fora avisado de que o amigo estava a beber, o que não fazia há mais de três anos, quando deixou os copos para dedicar-se integralmente à paixão de treinar e organizar a equipa de futebol local, que não tinha nada para além de um punhado de jogadores que, às suas próprias custas, mantinham-na no Regional. Ninguém queria responsabilizar-se pela agremiação e ele, com muito sofrimento, conseguiu a proeza de levá-la à Terceira Divisão. Facto que obrigou ao poder político disponibilizar um terreno onde é a sede do clube e a sua moradia e a sua vida e a sua família e as suas alegrias. Tantas alegrias! 

Encontra o amigo com peito sobre a mesa, rodeado de garrafas vazias. Senta-se frente ao companheiro e deixa vir à memória as cenas de tudo que aconteceu até a fuga: “Meu sacana!” – olha ternamente para o amigo que dorme profundamente – “Nunca vou esquecer aquela festa na sede. Aquilo lá tudo em obras e nós, como crianças bobas, festejando o primeiro golo na Terceira Divisão. Todo mundo lá. A Comunicação Social... Jornal. Rádio. Televisão. Eles todos. Os mesmos que antes tinham ido lá para registar o facto de nossa equipa passar todo o primeiro turno sem marcar. Demos o troco. Levamos treze, mas fizemos um... e uma grande festa à pala disto. E foi tão bonito! Quantas festas vieram a seguir. Lembro-me de todas. A da primeira vitória. A da manutenção. A da chegada dos dois profissionais que o comércio local teve que patrocinar, pois íamos de vento em popa. A da subida para a Segunda Divisão... desta, nem se fala! Ah, meu amigo! Tudo em ti era alegria. E foi essa alegria que me convenceu a tocar contigo esse barco. Fiz de tudo no clube. Minha paga? A tua alegria. Alegria que dava um colorido especial à minha vida. Por isso, meu sacana, ia em todas contigo. Ah, como posso esquecer o dia, ou melhor, a noite em que tu me entraste pela casa dentro gritando que um milagre acontecera e que a partir daquele momento tinha um team nas mãos. Por toda a noite, fez esquemas, arquitetou tácticas. Dizia, nervoso, que só faltava um elemento. Alguém para fazer a ligação entre a defesa e o ataque e segredou que tu foste achar esse elo que faltava justo numa rapariguinha. Não, tu não és o louco. Louco fui eu de dar guarida a essa ideia maluca. Porra! Eu já vi falsificarem idade. Até já soube de falsificarem sexo, mas ao contrário, homem passar por mulher... Mas mulher passar por homem... E tu tiveste o teu Dream Team. Tua laranja mecânica, tua dinamáquina. A rapariga era o teu Gérson de saias, teu Puskas menstruado, teu Cruiff de tampão, teu Ademir da Guia de fala fina, Teu Didi de batom.” 
Chora. As imagens continuam. Os pensamentos. “Que mal fizeram ao teu sonho, meu sacana? 

A verdade é que o obstinado treinador conseguira formar um team. Quando ele abandonou o amigo, a equipa já chamava a atenção pela positiva e tinha um jogador que saltava aos olhos. E, apesar de, regra sabida, no futebol moderno contarem as aptidões para os esquemas tácticos e técnicos, aquele jogador despontava e já era chamado O Craque. A equipa ainda estava na Segunda Divisão, mas estava tendo um excelente desempenho tanto no campeonato quanto na Taça. Pelo bonito futebol apresentado, passou a ser convidada para fazer jogos de exibição nas grandes cidades e até na Capital. E era O Craque pra cá, O Craque pra lá! Só se falava n’O Craque. Outros treinadores acreditavam que aquele craque poderia ter utilidade nas suas equipas e sondavam o seu passe. Até já tinha dirigente querendo que O Craque fizesse um teste na Selecção... 
Levanta-se e arregaça as mangas preparando-se para erguer o amigo e levá-lo para casa. “Fugi, meu amigo! Mas voltei e vamos a pique com o nosso barco. Não sei o que te fizeram nem no que vai dar tudo isso, mas estaremos juntos!” 

Sob o corpo do amigo está uma revista masculina que estampa na capa a foto de uma mulher seminua, com uma bola e vestida com as cores da Selecção e onde se lê: A nudez d’O Craque. 

 Lisboa, 2000

O atleta

Era uma vez, num futuro não muito longínquo, uma Corporação que cresceu em torno de um grande mercado de valores e veio a registar uma das maiores rendas per capita do globo corporativo. Apesar de nela morarem algumas das pessoas mais creditadas do Sistema Distribuidor de Créditos, seu mais conhecido representante era um atleta que, nos últimos Jogos, bateu um recorde acumulado de muitos anos e, de momento, todas as suas medalhas electrónicas de crédito instantâneo estavam sendo contestadas pelo comitê intercorporativo, em audiência interna. 

A acusação: ter negligenciado seus compromissos profissionais não tomando a droga prescrita pelo laboratório, seu patrocinador. 
     
 - Pela manhã, deixei a droga diluída num copo d’água, na mesa de cabeceira – explica o Atleta – Tomei-a quando voltei do pequeno-almoço. 
    - E como explica que em todas as análises não foi encontrado nenhum vestígio e o mesmo na contra-análise? 
     - Tenho a minha consciência tranquila. Bebi a água. Não dei por nada porque, como todos sabem, essa substância é insípida e... Bem, a única explicação que posso dar é que a camareira do hotel, ao fazer a arrumação, tenha derramado o copo e colocado outro com água pura. 
       - E porque ela faria uma coisa destas?
       - Por acidente. Sei lá eu! 
    - Ou por sabotagem. Vamos averiguar. Ela pode ser uma agente de um outro laboratório. – o presidente da mesa está nervoso – O facto é que estamos num quiproquó daqueles. Não podemos legitimar a vitória, pois não temos como satisfazer as exigências do patrocinador, que é a propaganda do seu produto. Por outro lado, não podemos tirar-lhe as medalhas alegando que você não tomou a droga. O patrocinador ficaria desmoralizado. Afinal, tantos créditos gastos e...
      - Podemos anular as vitórias por outro motivo. – tranquiliza um dos membros do comitê – Tenho conhecimento de que durante os preparativos dos Jogos, o atleta cometeu uma falta imperdoável para um profissional de altíssima competição. Fez uma exibição desonerada. Não recebeu um crédito sequer. Não foi assim, meu jovem? 
     - Bem! Foi na minha corporação natal. Recusei os créditos que os organizadores ofereciam, mas não corri de graça. Tive a minha paga. 
      - Como assim? 
     - Essa minha terra é uma corporação daquelas criada por uma grande superfície comercial, mas que tem uma área em estufa para experiências agrárias anciãs onde cultivam uma planta com o nome de trigo e com ela fazem uns pãezinhos que são uma das atracções turísticas da região, dos quais eu gosto muito, mas são muito caros. Portanto, eu troquei os créditos de minha apresentação pelo equivalente em pães. 
     - Senhores! – o presidente levanta-se com ares de quem está prestes a pedir demissão do cargo – Os senhores não percebem a gravidade da situação. Temos motivos para castigar o atleta, mas, o que dizer à opinião pública, aos consumidores? Todos viram os feitos do atleta e quererão saber que droga ele tomou, como ela se processou no metabolismo na altura da prova, enfim... 

Como ficou resolvida a questão, sinceramente, não sei. O que sei é que muito tempo depois restou a Lenda do Atleta de Pés Alados, que dizia assim: Era uma vez, há muitos e muitos anos, um atleta que parecia ter asas nos pés e que se alimentava só de pão e água... 

 Lisboa, 2000
 (Em lembrança de Jim Thorpe e de outros desportistas injustiçados)

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Futebol, uma subversão

O homem é um bichinho deveras inconformado. Rebelde por excelência, não se contenta com a sua condição e faz de tudo para superar as suas limitações e livrar-se das suas dependências. Assim, se não consegue fugir do que Deus dá, pelo menos, brinca. 

Sua maior limitação é a força da gravidade que, durante muitos milênios, fez com que ele só conseguisse ver-se livre dela, em sonhos. Sua maior dependência, a mão. De tanto sonhar, acabou por conseguir escapar da Gravidade, mas para tal, teve que usar a mão. 

A mão, que, para o cérebro, é mãe, pois foi quem despertou esse brincalhão que ora se volta contra ela, atribuindo aos pés as suas habilidades. Justo os pés que, outrora foram mãos, mas que, desde que o homem passou a erectus, sua anatomia compactou-se para suportar toda a massa atmosférica e os impactos gravitacionais. 

Tirando os casos em que os pés fazem as tarefas das mãos por questão de necessidade, a maior partida que o homem poderia fazer com a mão era criar um jogo onde ela fosse desprezada. E um jogo com bola que, como a terra, é redondinha e não tem por onde pegar. É! É o espírito lúdico, competitivo e, como o próprio universo, com tanto gosto pelo acaso. 

No futebol, dito também soccer, ela é tão desprezada que se torna enorme. Vai desde a ponta da unha até ao braço. Dependendo da situação, até o uso do ombro ou a simples menção de colocar a mão na bola, é uma falta grave. Assim como no futebol americano, que só usa o pé em determinado momento, o nosso futebol só usa as mãos para por a bola em jogo a partir da linha lateral do campo ou para guardar a baliza. Como o objetivo do jogo é o gol, para impedi-lo, vale tudo, até mesmo usar as mãos. 

Superar com as mãos o encanto que os pés proporcionam, só com magia. Coisa assim, como tocar clavicórdio. 

 Oferecido ao Cristiano Holtz, que não joga futebol, mas toca clavicórdio. 

Jorge Carlos
Petrópolis, 22 de setembro de 2014

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Apagão



Eu nem dormi! Eu também não! Nem eu! Eu, desde que soube que eu ia que fico só pensando. Eu queria ser o primeiro a entrar! Ih, bobo, entra primeiro os menorzinhos. É os grandes! Né, nada! Eu acho que eles vão escolher na sorte. Amanhã, no ensaio, a gente fica sabendo. Nunca chega amanhã! Eu nem aprendi o hino. Bobo, quem canta o hino são eles. Eu sonhei que entrava no colo de um. Eu também sonhei, só não vi na mão de qual que eu pegava.

Aquele que me levou, será no lugar de quem que ele estava? Nunca mais vai ser terça-feira! Pra mim, pode ser qualquer um. Eu quero é entrar no gramado de novo. Nuh! Pisar na grama foi bom demais! Bom mesmo é se a gente pudesse sair correndo pelo campo! E chutar a bola! Pode, é só querer! Uai, sô! Com magia. ? ? ? A namorada do meu irmão tem uma tia que o avô dela é feiticeiro e tem uma pomada que faz um, ser como o outro. ? ? ? ? ? ? A minha mãe mesmo já usou pra saber o que eu tinha quando fiquei doente.

Quem vai querer? Quê que a gente tem que fazer? Passa um pouco na mão e segura bem firme na mão do que vai te levar e é só querer, mas tem que querer com força. E depois? Depois é só ficar quietinho e esperar fazer efeito. E a gente vai ver tudinho como se estivesse dentro do campo? A minha mãe disse que a gente sente tudo que a outra pessoa faz. E se o que eu der a mão levar uma canelada? Vai doer em você também. Eu quero. Eu também. Eu estou com medo. Larga de ser bobo, não faz mal não. Eu não quero levar canelada. Não chora, não. Espia, espia, já vão pegar a gente. Cala a boca! Fica quieto! Não fala nada! Já sabem, depois, é só fechar os olhos e aproveitar bem que o efeito dura só um pouquinho tempo.

Nuh, que bacana, sô! Eu nem vi a bola! Eu dei um chute, mas doeu meu pé. Eu não peguei na bola, mas corri à beça, pra lá e pra cá. Eu não sabia se ia atrás da bola ou se ficava olhando a torcida. Mas o Mineirão é bonito, né?! E cheim até o tampo! Essa bola machuca a gente. Pena que foi tão pouquinho! Seis minutinhos só, mas valeu!
                                                                                                                                           
                                                                                                                                                                                                                                                                                                Jorge Carlos

sábado, 30 de agosto de 2014

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

(Nos quinze minutos do intervalo em conversa solta de torcedor): O PODER DESSES CARAS!



Imaginem a minha surpresa ao ligar para o banco, numa consulta de rotina, e saber que meu qualquer havia desaparecido!

Consultei a fonte que despeja, mensalmente, o qualquer e me enviaram, via fax, a informação de que o desaparecido deveria estar lá, quietinho, esperando as minhas escolhas no que tange a torrá-lo...

Liguei, novamente, para o banco e meu gerente me informou que havia algo errado com a minha conta, pois, pelo que informava o sistema, havia uma constatação de que eu havia morrido!

Talvez eu morra no domingo que vem nesse meu voo duplo de paraglider, mas disse a ele que, a não ser que estivéssemos numa sessão espírita, eu estava bem vivo (ao menos por enquanto)!

Mas ele respondeu que, infelizmente, havia a questão da burocracia!

Eu deveria provar que estava vivo indo lá na agência!

Forneci-lhe dados, de sobejo, numa tentativa de comprovar que eu não era um fantasma.

Mas foi em vão...

Então lembrei a pergunta que me fizeram tempos atrás: “ – Qual o seu maior medo”?

Na ocasião não consegui me decidir acerca desse tal “maior medo”!

Mas naquele momento, ouvindo o ‘tchau’ seco do famigerado gerente, em forma de um: “ – Tenha uma boa tarde!”, descobri que tenho medo de gerente de banco!

Fiquei tentando visualizar a imagem do cara, um matador virtual que consegue apagar a existência do meu tão merecido qualquer!

Aquela voz seca e concisa! Aquela certeza de que eu não mais fazia parte da prole que caminha para constatar que o futuro é dos que têm o poder para matar e para deixar vivo...

Será que o Maluf e os outros ladrões que despejam bilhões nas contas bancárias, por aí a fora, também têm medo de gerente?

Meu D’us! E agora? Apenas rezo ou viajo mais de mil e quinhentos quilômetros para provar que não desencarnei?

E se eu morrer em um acidente durante o percurso?

Será que meu qualquer mensal vale o sacrifício?

O mais estranho é que eu pensei em reclamar com o chefe do gerente, mas na agência é ele o que manda e os outros apenas obedecem!

Ouvir-me ia o presidente ou um dos grandes executivos da maior empresa de sociedade mista do país?

Decidi não reclamar mais, afinal deve ser um fardo, para o poderoso gerente, essas enfadonhas reclamações de gente como eu que gasta o seu tempo trabalhando duro para dar continuidade a essa tentativa diária de melhorar a sociedade de modo que ela forme novos super gerentes e esses venham demonstrar seu poderio de decisões despóticas que venham, no futuro, tirar do sério milhões de ocupados em aumentar a produção da colmeia chamada Brasil que tem o desprazer de possuir muitos zangões e uma só rainha: a desorganização!

Ronaldo Rhusso



terça-feira, 26 de agosto de 2014

Na banheira

Uma das coisas que faz com que o futebol seja tão popular é a facilidade de assimilação das suas regras, poucas e simples, com exceção de uma que, até pouco tempo, era muito complicada e dava margem a várias interpretações. Hoje, ela é simples, porém, muitas vezes, de difícil aplicação. Trata-se da décima primeira das dezessete leis que regem o jogo. A lei diz que o jogador está em impedimento de continuar a jogada, está fora de jogo, off side (como se diz no original) ou está na banheira (como se dizia no meu tempo). Pretendo aqui dar a minha sugestão para mudança da Regra 11 (croqui) esperando que seja colocada em apreciação pelos órgãos competentes.


Porém, antes gostaria de dissertar sobre o termo “Banheira”. Alguns acham que vem do fato do impedimento acontecer majoritariamente na zona do campo em que é mais pisada, onde se forma uma grande poça quando chove. Não, essa é a chamada Zona do Agrião, que é planta que dá na água. Outros, mais apropriadamente, dizem que seja porque na banheira é um lugar onde, supostamente, se está sozinho, isolado, uma das condições para o impedimento. Vou dar a minha versão: Os jogos com bola perdem-se na memória da história e são comuns a todas as civilizações, porém, como a nossa, dita ocidental tem seu berço na Grécia Antiga, é para lá que vamos: Conta-se que Arquimedes era muito chegado ao jogo do “esferopédio”. Como a sua posição era a de avançado e a bola custava chegar até ele, aproveitava o tempo refestelado numa banheira que levava para onde ia. Dizia ele que para além de refrescar, a água ajudava a pensar e pensar era a sua profissão. O jogo da bola ele exercia amadoristicamente. E, com isso de trabalhar enquanto se brinca, aconteceu de um dia ele ter uma grande ideia durante um jogo. Como um louco, abandonou o campo a correr e a gritar “Eureka!” sem ao menos ver a bola que lhe fora lançada. A sua mais recente ideia tomava-lhe muito tempo em conferências e aulas a ministrar e Arquimedes nunca mais volveu aos campos, mas o seu estilo legou-nos o termo que (os do meu tempo) ainda ouvem ribombar no ouvido da memória gritado por “Mário Vianna com dois enes!” a pleno pulmão, categoricamente, com todas as vibrações que o erre entre vogais permite: “Banheira!”